O sonho de qualquer empresa, são os recursos gratuitos, a matéria prima a custo zero para a maximização dos lucros.
Foi assim que nasceram as empresas de reciclagem.
A matéria prima, é o fardo das sociedades modernas e adensadas, que ninguém quer à porta.
Ainda sou do tempo, em que a maioria das embalagens de vidro tinham um imposto especial no acto da compra, chamado "depósito".
Consistia num valor adicional (já incluído no preço do produto) que seria devolvido ao se entregar o vasilhame vazio no local da compra.
Havia com isso, um excelente motivo para promover a reciclagem, sendo parte do custo suportado pela empresa de reciclagem, a qual iria recolher mais tarde este material e imputava o custo ao cliente final.
Ainda me lembro de andar na escola a recolher jornais, revistas, cartão e listas telefónicas, deixando um sem número de sem-abrigos pior que chateados (alguns perseguiam-nos furiosos pelas ruas de Lisboa) porque na realidade estávamos mesmo a tirar-lhes um ganha pão com uma inocente acção sensibilizadora para os problemas do lixo.
Mas a grande revolução surgiu muito recentemente pelo nome de "eco-ponto".
Usando e abusando de campanhas de marketing axiológico, onde uma mão cheia de criancinhas em frases irritantes, induzem um sentimento de culpa a quem não executa a acção que elas pedem, como se a mesma fosse marcadamente anti-social (e ainda falam do trabalho infantil?).
E assim, se inicia a nova máquina onde o bom cidadão, comovido com o chorinho que invadiu a televisão, a rádio, os jornais e o cinema, vai a correr oferecer de mão beijada o novo ouro negro dessas sociedades que promovem o bom ambiente...
Aqui, a dita empresa, vai então recolher este precioso desperdício da actual cultura urbana, sinal de uma sociedade altamente moderna e evoluída, compelida pelas lágrimas e pelo choro, um desperdício a que ninguém dá valor... esperem... ninguém?
Pelos vistos, o que é lixo para uns, para outros é um tesouro, senão vejamos:
Vamos ao supermercado, compramos uma garrafa de um bom vinho e constatamos que no preço continua a estar incluída a "eco-taxa", o antigo depósito. Depois, de termos tido o proveito nesse vinho, vamos enfiar a garrafa no dito eco-ponto, estrategicamente colocado numa filosofia meio baldas em locais que nem sempre se percebe porquê, comprados pelos municípios à dita sociedade eco-ponto.
Seguidamente, o município paga pela recolha desse mesmo material (já separadinho - apesar que já assisti a diversas recolhas onde tudo era misturado no mesmo camião) a essa mesma empresa... Por fim, essa empresa processa os productos e vende a matéria prima processada às empresas que vão produzir a embalagem que o consumidor final irá pagar novamente.
Neste mapa de negócio, constatamos que apesar dos custos operacionais, a grande lucradora é na realidade a empresa de gestão e recolha, a qual vende e revende o mesmo material que obteve a custo zero, sob o pretexto diverso de "custos", encarecendo o producto final e ainda recebendo pelo favorzinho de o ir recolher.
Atenção, eu não sou contra a reciclagem, nunca fui, alguma coisa tem de se fazer com o lixo e enterrar na realidade nem sempre é a solução, obviamente. Mas este pensamento surge no seguimento da notícia desta semana onde a sociedade Ponto Verde se ia recusar a reciclar embalagens de batatas fritas ou de iogurte por não ser "rentável".
Num serviço que devia de ser benemérito simplesmente pelo facto de ser algo essencial e cujo o custo se encontra a ser imputado na mesma ao consumidor final, andamos a despejar subsídios e ainda a pagar para virem buscar aquilo que sem o qual, o negócio deles falha.
Chegaram um dia, numa dessas empresas, a exigir-me um preço para receberem cartão de embalagem que eu próprio iria lá depositar nas instalações deles, usando os meus recursos. A resposta foi que apesar de quererem e muito esse material, não era rentável o armazenamento do mesmo.
Converti-o em cinzas, recolhi as mesmas e espalhei-as num terreno, a pedido do dono fertilizando roseiras, pereiras e outras árvores, recebendo um reconhecido muito obrigado do dono.
O custo que tive, acabou sendo menor, que não tive de gastar tanto gasóleo como teria gasto para levar o cartão, nem em folhas de papel para passar guias a justificar o transporte do referido lixo.
O lixo foi, desde sempre, um grande negócio, muitas vezes sujo, não pela natureza dos seus componentes, mas pela natureza de quem o gere.
Enquanto não se repensar este modelo de negócio, muita gente vai continuar a lucrar num esquema nauseabundo, e por vezes, demasiado repugnante nas declarações que deixam passar para a sociedade ou na forma como à hora de jantar, compram o intervalo mais caro para nos compelirem a culpa de não realizarmos a acção.
sábado, 26 de setembro de 2009
O grande negócio sujo do lixo
Publicada por Rui Maldonado à(s) 10:26
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1 opinaduras:
Tens toda a razão...
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