sábado, 24 de outubro de 2009

Fábula de toda a gente e ninguém

Andava ninguém, pelos campos fora, atrás de toda a gente, e toda a gente andava assustada com ninguém.
Corriam, desalmados pelas suas vidas, cegos e sedentos de chegarem a algures seguro, sabe-se lá onde.
Ninguém procurava por todo o lado, farejando o rasto de toda a gente, porque ninguém queria saber onde estavam.
Ninguém era um santo, normalmente, mas um dia cansou-se de ter toda a gente a chateá-lo por tudo e por nada. Toda a gente passava a vida a meterem o nariz na vida de ninguém, e toda a gente tinha uma opinião sobre ninguém.
Ninguém, estava cansado de toda a gente, queria apenas assusta-los para que nunca mais o viessem chatear.
Mas apesar de toda a gente estar assustada, toda a gente se começou a juntar de novo e começaram a estabelecer um plano para caçar ninguém.
Estavam aborrecidos sem ninguém a quem chatear, sem ninguém em quem espiar, sem ninguém de quem dizer mal... Toda a gente era infeliz, sem se meter na vida de ninguém.
Foi então, numa bela manhã que toda a gente invadiu a casa de ninguém: isso pelo menos daria uma história fantástica para toda a gente contar!
No inicio ninguém gostou da visita, mas toda a gente depressa começou a impor a sua vontade e a dar ordens.
Foi quando toda a gente partiu uma bela jarra de ninguém, que o caos se instaurou, ninguém gritou e a fúria assolou o rosto de ninguém, desatando toda a gente a fugir, e ninguém atrás de toda a gente.
Ninguém finalmente mais calmo, encontrou toda a gente e pediu humildemente a toda a gente que lhe pagasse uma jarra nova.
Toda a gente, refeita do susto, apercebem-se do momento de fraqueza de ninguém, e crescendo em torno de toda a gente, num ímpeto de arrogância, desdenham de ninguém.
E assim ninguém, regressou a lado nenhum, continuando a viver os seus dias como chacota de toda a gente, até que toda a gente envelheceu e desapareceu, e ninguém sentiu a falta de toda a gente.

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